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Arquitetos: QOZ Arquitetos
- Área: 210 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Pedro Ocanhas
Descrição enviada pela equipe de projeto. Localizado numa rua arborizada do bairro Jardins, São Paulo, um edifício da década de 1980 comporta este imóvel de 180m2, resultado da junção de dois apartamentos com plantas espelhadas no décimo oitavo andar. Apesar dos esforços para uni-los plenamente e ganhar um ambiente social amplo e integrado, alguns elementos persistiram como verdadeiras cicatrizes, manifestando a sua origem fragmentada.
Ao abrir a porta do hall principal, posicionada exatamente na conexão entre as duas unidades residenciais, o esquema do prédio, com pilares e uma coluna hidráulica, logo é revelado como um primeiro desafio. Somado a isso, o corredor extenso, que funciona como espécie de espinha dorsal nesta moradia duplicada, recepciona quem chega e conduz a todos os outros cômodos, porém dificulta a percepção de ambientes de convívio e acolhimento.
Em diálogo com os moradores, entendendo suas rotinas e dinâmicas, nosso projeto de reforma e design de interiores teve como premissas criar noções de fluidez e continuidade no layout, aproveitar a generosa entrada de luz natural e transmitir sensação de conforto através das diferentes materialidades.
A marcenaria sob medida, em folha natural de carvalho americano, teve um papel fundamental! Seu desenho é uma potente ferramenta para direcionar o percurso interno aos espaços de permanência, além de atenuar e dar propósito aos obstáculos impostos pelo sistema construtivo. Na área de circulação, embora não deixem de exercer o uso habitual, estantes foram criadas como divisórias permeáveis: uma delas, entre dois componentes estruturais, delimita a sala íntima, logo à sua frente, outra dá contorno ao escritório e acopla uma mesa de trabalho. A linguagem estética adotada por todos os móveis desenhados cria um forte senso de identidade e ritmo, além disso, o aspecto da madeira, junto com o piso vinílico, reforça uma atmosfera de bem-estar nesta construção que trazia apenas piso frio e paredes todas brancas.
Nas proximidades da varanda, a fim de driblar o encontro truncado entre os dois imóveis, projetamos um sofá–ilha que abraça o pilar e cria relações bilaterais, configurando a sala de tv e o living. Os demais mobiliários, tapeçarias e obras de arte, escolhidos sob um olhar atento, despertam a curiosidade sensorial e, ao mesmo tempo, mantêm um arranjo de cores leve e harmonioso.
Acolhendo memórias e suturas, o Apartamento Papoula torna-se um lar autêntico, aconchegante e rico em detalhes. Os volumes da estrutura, antes encarados como entraves e repartição espacial, foram convertidos em ensejo para alcançar equilíbrio e a noção de unidade no todo.